quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Protótipos











As conveniências da vida nos moldam, torturam, emolduram. Talvez sejamos exteriormente a encarnação do que gostaríamos de ser, protótipos da perfeição sonhada, como bonecos manipulados pelo eu verdadeiro; bonecos que fingem não sentir a dor das palavras alheias, as decepções da insegurança sentimental, o cansaço da hostilidade de viver.

Falsa perfeição! Basta olhar mais de perto para ver os lapsos acontecerem . Não há um homem sequer que consiga manter-se inabalável dentro da armadura, pois todos somos passíveis à submersão da verdadeira essência. A carcaça de humanóide nem sempre suporta as instabilidades da existência e rompe-se turgidamente para fundir-se ao meio concentrado das pressões.

Fazemos escolhas como seres perfeitos, aliás, nosso protótipo escolhe o que melhor convém. Entretanto, a dor é sentida pela alma, é a essência do verdadeiro ser humano que transita entre a tristeza e a alegria continuamente. Como as consequências nunca falham -eis a verdade da qual não esqueço-, o segredo da boa sobrevivência é saber decidir, posto que as oportunidades são imprescidíveis, o estar aqui é único, traiçoeiro e tão efêmero quanto o vento.

Leila Andrade






 

Insignificâncias de luxúria




Doce e inútil é o caminho dos seus laços,
das fitas de um ser estranho aos modos comuns
mais avesso às perfeições do que os ventos de temporais,
relicário de tortuosos traços.


Efervescente e prazeroso é o fel de suas veias,
das profícuas investidas libidinais
incrustadas nos fios mais íntimos,
caleidoscópicos de incógnitas alheias.


Infernal e sensual é sensação de suas tateadoras,
das arestas de um ser comum aos modos estranhos
mais semelhante às igualdades do que as brisas matinais,
espelho de belezas traidoras.


Leila Andrade




Foto: www.coletivocafécomgelo.blogspot.com

Leite derramado



"Se com a idade a gente dá para repetir casos antigos, palavra por palavra, não é por cansaço da alma, é por esmero. É para si próprio que um velho repete sempre a mesma história, como se assim tirasse cópias dela, para a hipótese de a história se extraviar."
Chico Buarque, Leite Derramado.


É a saudade que me faz repetir na memória os melhores anos da minha vida, os anos em que estive viva.