sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Desnecessidade





Desnecessidade

Não me maculo por meios
Não procuro meios
Eu sou o meu meio
e no meu meio mando eu.

Leila Andrade e Paty Andrade

Catarse



Catarse
 
A solidão desce como um gole ácido e volta quente, corrosiva e perturbadora pela garganta acima. Vomito a alma, vomito a dor das escolhas tronchas. Suo pelos dedos o sangue que encerra toda a dor de alma perturbada e ansiosa de paz, de alheios, de mim.

Somente o vinho e o sorriso de Piaf ousam calar os gritos do silêncio que me percorrem o corpo, na busca por talhos. O vento da madrugada parece tentar enlaçar-me com carinho, para me fazer adormecer e sonhar com as escolhas que poderia ter feito não fosse meu ideal de mulher independente.

A solidão me sacode e atira a realidade na cara, esfrega-me as noites que passava pensando sobre a paz que teria quando carregasse minhas chaves, meus horários, meu mundo. Descubro agora que construí os pilares da vida sobre sonhos adolescentes, sobre sandices que não sei de onde tirei. Nunca ouvi sandices sentimentais em minha casa.

Tolices à parte, o que tenho por escolha e por orgulho é uma casa grande e silenciosa, livros e CDs. Tenho a tortura da alma latente e carente de gente, mas reticente e estupidamente altiva. Tenho as cogitações sobre amores que tive, mas não quis, e amores que gostaria de ter, mas não posso. Tenho esta outra de dentro que berra por talhos para acalmar a dor.


Resta agora escrever, riscar as cicatrizes da alma, verter a agonia de ser.



Leila Andrade