sábado, 1 de setembro de 2012

Fim







"As mentiras usuais
que nos fodem sutilmente
essas sim são imorais,
essas sim são indecentes."
Leila Miccolis




O processo de desconstrução do que deveria existir até a foice da morte nos alcançar ou a nossa própria foice – a minha, talvez –  nos atingir, me atingir, atordoa impiedosamente o cenário-perfeito-de-dois-anos-e-meio de atuação. Vão-se sorrisos, gemidos, amigos, laços familiares, objetos, cachorro, planos, promessas, nós, você, eu. Vão-se cobranças, noites taciturnas, lágrimas, reclamações, obrigações, frustrações físicas e emocionais.

Sem cortes, lágrimas, show, gritos; com inúteis pedidos de perdão.  A tua perfeição como pessoa não deve se estragar com minha podridão de ser humano normal. É essa sensação ridícula de poderia-ter-dado-certo que me estraçalha a alma e sangra as mãos. Tenho gastado os dias me atrelando à procura pela casa - o meu novo mundo-, aos amigos que confortam, às cobranças da universidade, às obrigações do trabalho, a tudo que substitua o que eu nunca pensei em desfazer e quis que durasse. Restou o que sempre fui, mas negava.

Talvez tenha sido esta por quem você nunca se apaixonou - a verdadeira - que tenha estragado a relação. Assumo a parte que me cabe nessa separação. Fico comigo e minha individualidade respeitada a qualquer custo; fico com as decepções que cansei de ver mainha dizer e fiz questão de pôr à prova. Levo os discos do Chico, o livro da Elis, as fotos, alguns objetos, sensações, sons, parte de nós. Vou com meus talhos e o mundo que estou criando só comigo e só pra mim, como deveria ter sido desde que nasci.


Leila Andrade