domingo, 15 de junho de 2014

Desenlace





Cada pessoa traz consigo um mundo e vive as pertinências deste até o dia em que resolve abrir as portas para o mundo real. Não creio ser com consciência, pois a consciência verdadeira só os loucos a possuem, mas vejo essa abertura de portas como um chamamento para uma realidade improfícua e dissimulada.

Acho que me traí e só agora percebo que caí na armadilha dos anormais. Eu era tão mais eu, tinha tanto mais eu, me bastava feliz. Não percebi a fronteira que ultrapassei e nem quando o fiz ou como o fiz.

Emudecida, sentei na cama e senti a mesma sensação dos tempos antigos, mas sem lágrimas e cortes. Só agora dei conta de onde cheguei. Acho que me traí sem perceber. Estava já deixando as pertinências alheias misturarem-se aos meus pensamentos, quase me perdi de mim.

Tempos atrás eu fechava a porta com chave e mergulhava em mim, voando nas asas quebradas de meus demônios interiores, autista por opção. Ali era eu de verdade, somente eu. Não fazia questão de pessoas, amores alheios, palavras e atenções. Como deixei a indiferença ir embora é uma incógnita. Nem sei quando passei para a realidade inconsciente, para a vida construída.

As pessoas deixam de se perceber em algum momento de uma existência, deixam as paradas por causa das reuniões. Quem volta? Poucos voltam, voltam e se permitem ou são permitidos.

Tenho a sensação de ter estado em coma por anos. Coisa estranha essa de olhar meus feitos e desconhecer as motivações. Como consertar tudo isso? Não sei mais. Sei somente que voltei, voltei pra mim.



Leila Andrade

Um comentário:

  1. Janaina Andrade Lordello12 de fevereiro de 2010 às 11:13

    Você é a sua própria julgadora...basta ser e viver sem precisar saber tanto PORQUÊ!
    Você é muito normal, tão que acredita e ver a possibilidade de não ser.
    Seja como você quer ser e seja muito feliz sabendo que tem pessoas que te mama muito e EU sou uma dessas, AMO SEM FRONTEIRA!

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